Condições metabólicas e hormonais que favorecem o surgimento do câncer

Todos sabemos que “câncer” é uma palavra que, por si mesma, gera uma certa apreensão e temor. Do ponto de vista da ciência, ela também é diversa, multifacetada, com várias causas e consequências.

Falando nisso, sabia que o nosso próprio corpo, através de seus processos metabólicos e hormonais, pode influenciar o surgimento e progressão do câncer? Sim, é isso mesmo. 

Para que você tenha uma compreensão inicial, o nosso metabolismo é uma série complexa de reações químicas que ocorrem dentro das células, juntamente com os hormônios - uma espécie de “moléculas mensageiras”.

Através de suas “mensagens”, os hormônios desempenham um papel crucial na maneira como nosso corpo responde ao câncer. E é exatamente sobre isso que vamos aprender hoje.

No blog desta semana, eu te convido a explorar mais a fundo essas condições metabólicas e hormonais que favorecem o surgimento do câncer em humanos. Vamos juntos?

Para começar: o que são hormônios e quais seus mecanismos de ação?

Os hormônios são substâncias químicas produzidas pelas glândulas do sistema endócrino, que atuam como mensageiros químicos. Eles viajam através da corrente sanguínea para chegar a outras partes do corpo.

Podemos dizer, inclusive, que essa “viagem” dos hormônios pelo sangue é o que ajuda a garantir que nosso corpo funcione de maneira harmoniosa. 

Com relação à função, o grande destaque dos hormônios é sua ação vital para processos como crescimento, desenvolvimento, metabolismo, função sexual e até mesmo nosso humor. Sabia disso?

O mecanismo de ação dos hormônios começa quando eles são secretados diretamente na corrente sanguínea, dirigindo-se aos tecidos alvo, que possuem receptores específicos para esses hormônios. 

Por fim, ao se ligarem a esses receptores nas células-alvo, os hormônios desencadeiam uma série de reações que alteram a atividade, função ou secreção da célula.

O que é metabolismo e como ele age juntamente com os hormônios?

Chegou a hora de falar sobre o metabolismo. Aqui, estamos tratando de um conjunto de reações químicas que ocorrem dentro de nossas células, permitindo que o corpo cresça, reproduza e responda aos estímulos do seu ambiente. 

Em termos simples, o metabolismo é o processo pelo qual nosso corpo converte o que comemos e bebemos em energia. Ficou mais fácil de entender?

E como falamos dos hormônios também, é importante saber que eles têm um papel fundamental na regulação do metabolismo. Vamos dar um exemplo: a insulina, produzida no pâncreas. 

A insulina é um hormônio que ajuda nosso corpo a usar ou armazenar a glicose que obtemos dos alimentos. A falta total ou intolerância à insulina é a causa principal da diabetes. 

Já os hormônios tireoidianos, produzidos na tireoide, regulam o metabolismo basal - a taxa na qual nosso corpo usa energia em repouso. E por aí vai… quando o assunto é metabolismo, existe um universo gigantesco a ser explorado! 

Metabolismo alterado e predisposição do câncer:

Agora, quando o nosso metabolismo sofre alterações, como isso gera predisposição ao câncer?

Vamos lá: quando o metabolismo é alterado, seja por fatores genéticos, estilo de vida ou doenças, isso pode criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de células cancerígenas. 

Um exemplo disso é a resistência à insulina (falamos dela anteriormente), condição na qual o corpo não responde adequadamente à insulina que produz. 

Além dessa ser a causa da diabetes tipo 2, o excesso desse hormônio no sangue pode promover o crescimento anormal de células, o que aumenta, potencialmente, o desenvolvimento do câncer.

Além disso, sabe-se também que mutações em genes que regulam o metabolismo das células podem resultar em um aumento da proliferação destas e resistência à morte celular programada, processos que são fundamentais para o desenvolvimento do câncer. 

Um exemplo disso são as mutações que levam ao aumento da atividade da enzima PI3K. Esta é uma reguladora chave do metabolismo celular. E alterações nela já foram identificadas em muitos tipos de câncer.

Aqui é importante dizer que, na literatura médica, há ainda outros exemplos sobre alterações e mutações metabólicas associadas ao desenvolvimento de câncer. 

Sendo assim, para efeitos deste texto, vamos ficar apenas com os casos já mencionados.

Terapias hormonais e riscos associados:

Nosso ponto de partida neste tópico é entender o que são as terapias hormonais. 

Elas são tratamentos que alteram a atividade hormonal do corpo e são frequentemente usadas para tratar cânceres que são sensíveis a hormônios, como alguns tipos que afetam as mamas e a próstata. 

Embora possam ser eficazes, as terapias hormonais também possuem riscos associados. Por exemplo, a terapia de reposição hormonal (TRH) usada para tratar os sintomas da menopausa pode aumentar o risco de certos cânceres em mulheres.

Alguns exemplos são: câncer de mama, tumores no endométrio (revestimento do útero) e neoplasias malignas de ovário.  Por essa razão, é fundamental que pacientes e médicos discutam os benefícios e riscos desses tratamentos antes de iniciá-los. 

Sem contar que certos tratamentos hormonais podem, inclusive, aumentar o risco de coágulos sanguíneos, acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos e outros problemas cardiovasculares.

Conclusão:

Como vimos, o delicado equilíbrio entre hormônios e metabolismo desempenha um papel crucial na saúde e no bem-estar do corpo humano. 

Além disso, aprendemos que disfunções metabólicas e desequilíbrios hormonais podem, em algumas circunstâncias, favorecer o surgimento de câncer, evidenciando a complexa interação entre esses sistemas e a oncogênese. 

Aprendemos, também, que as terapias hormonais representam um avanço valioso no tratamento de algumas condições cancerígenas, mas que elas não estão isentas de riscos.

Portanto, é fundamental que os pacientes estejam bem informados e em constante diálogo com seus médicos, avaliando os benefícios e riscos de qualquer tratamento. 

Pessoal, a medicina continua a evoluir, e com pesquisas contínuas e conscientização, podemos esperar abordagens ainda mais seguras e eficazes no futuro.

Para continuar aprendendo mais sobre saúde, convido você a conferir o próximo artigo que vai sair na semana que vem aqui no meu blog. Até lá!

Dr. Bruno Marcelino - Cirurgião Oncológico.